O Casal do Ônibus

E eles sempre entravam no mesmo ônibus, com o mesmo cobrador, que já nem precisava saber que o mocinho é quem pagava as duas passagens. Ela então passava primeiro, depois ele. O cobrador nem prestava muito atenção nos dois, estava mais preocupado em ouvir o jogo do Corinthians no seu fone de ouvido, balançando o braço, com o punho fechado, num movimento de "ufa!" ou de "quase que foi gol", dependendo de como estava o jogo. O movimento era o mesmo.

Os dois, sempre que possível, sentavam no banco mais alto (aquele que fica logo acima da roda do ônibus). Só não sentavam lá quando um dos lugares não estava disponível, porque eles precisavam sentar juntos e se abraçarem quando estava frio ou só ficar de mãos dadas no calor.

O ano todo era a mesma coisa, sempre as 22h lá estavam os dois juntos no ônibus. Provavelmente estudavam ou trabalhavam juntos, ou até ele buscava ela na saída do trabalho...

Era gostoso o jeito que eles falavam e sobre o que eles falavam, ia de política à livros, embora era possível perceber que ela não gostava muito da temática "livros", preferia cinema. Ele era um devorador de livros: contava à ela a história de três ou quatro livros que ele tinha lido naquela semana!

Mas, hoje, o cobrador até estranhou, tirou o fone e ficou olhando para a cara dele, que disse, dando uma nota de 10 reais:

- Uma passagem por favor.

Pagou, virou a catraca e sentou no banco mais alto que ficava acima da roda do ônibus. Desta vez, só tinha um assento disponível, parecia até que tinha sido reservado para ele, que, hoje tinha a cara fechada e na mão não tinha mais aquela aliança linda que brilhava feito diamante.